Abro a porta e uma parte de minha vida desce a escada. Na esperança de retê-la, desço também, mas tudo que me é permitido é chegar até ao pátio das recordações.
Olho você sumir na curva da estrada, com a mesma indefinida velocidade com que sumiu do meu caminho e volto sobre meus próprios passos, como um dia voltei sobre minha vida e reexaminei os caminhos tomados.
As lembranças borbulham insistentes como se fossem miríades de borboletas saindo do casulo... Esparramam-se sobre a cama, confundem-se com seu lençol favorito, brincam com meus olhos.
É noite, estamos em sua casa. Sua pele fresca, recém saída do banho, ainda tem o cheiro puro que emana de si própria, sem outros perfumes. Sentado no braço da poltrona, seus longos cabelos molhados aguardam minhas mãos diligentes... Mais a frente, numa noite chuvosa, caminhamos pela rua a procura de um local para lanchar, tomar um refrigerante...
Uma bolinha brilhante salta sobre todas, dentro dela um casal de amigos caminha pelo parque. É fim de tarde e contra o sol que desce pela barra do horizonte, um rapaz decidido suspende, com facilidade, sua parceira, pela cintura... Mil luzes brilham no céu e o sol, talvez enciumado, esconde-se na barra do horizonte!
Sorrio admirando lembranças enevoadas pela fumaça de cigarros contínuos. Qual era mesmo aquela marca? Não sei, já faz tanto tempo, sei que jamais cheguei a ver outra pessoa que portasse um cigarro com tanta elegância.
A superfície fica colorida, tantas e tantas são as lembranças que se espalham. Algumas inconfessáveis, lembram momentos que jamais se repetirão em intensidade e sabor, outras falam de mãos nervosas arrastando os cabelos para trás. Todas lindas, brilhantes, queridas.
Amo minhas recordações e as recolho carinhosamente. Contemplando-as, mais uma entre centenas de outras vezes, fico pensando que outros caminhos poderíamos ter tomado: teria sido melhor ou pior? Ninguém jamais saberá.
Se é verdade que as paralelas se encontram no infinito, será que um dia nossos caminhos ainda vão se cruzar?
Alguém passa cantando:
(1 ...)E quando finjo que esqueço
Eu não esqueci nada...
E cada vez que eu fujo, eu me aproximo mais
E te perder de vista assim é ruim demais
E é por isso que atravesso o teu futuro
E faço das lembranças um lugar seguro...
Eu não esqueci nada...
E cada vez que eu fujo, eu me aproximo mais
E te perder de vista assim é ruim demais
E é por isso que atravesso o teu futuro
E faço das lembranças um lugar seguro...
por Thamar
1- Quem de Nós Dois - Ana Carolina
É maninha, vc mais uma vez arrepiando!!!
ResponderExcluir" Mas toda vez que eu procuro uma saida
acabo entrando sem querer na tua vida"
Essa é a parte mais crítica!
bjs