segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Alice no pais das Maravilhas


Ei, Irmã, a proposito de subir em árvores, lembrei de ter, outro dia, escrito o seguinte:


A fruta tocou a língua, e o sabor da infância disparou imagens, saudades, aromas... Manga rosa, manga doce, manga dos tempos distantes, das tardes amenas com sabor de amor, amor de rosa-mãe.

Manga chupada no pé, com casca e tudo. Manga descascada, cortada em fatias douradas, dançando no prato sobre a janela da fazenda e minha avó com seu sorriso de paz, seus cabelos brancos, seu vestido preto e o imenso amor, amor-manga, embalando o tempo.

“Quem é você?” A pergunta feita pela lagarta a Alice ressoa no tempo e volta no vento cheia dos odores daquelas tardes perfumadas pelo cheiro do campo, onde alfinins dourados chegavam na ponta dos dedos das fadas.

Alice no país das maravilhas, protegida pelo amor das Fadas, elfos e povo pequeno, digeriu as transformações sofridas e encontros inusitados com a perda e a vida real, os círculos sociais próximos, nunca tão próximos que fossem compreensíveis, a escola, as atividades cotidianas. Suas respostas sempre erradas, sucessivamente perfumadas pelas mangas-rosa suculentas, oliveiras e pitangas, lírios do campo e rodas ao luar.

O mês de maio e os terços sob a lua prata, os terreiros de areia branca e o atabaque soando ao fundo, muito longe, na terra de homens negros, turbantes brilhantes, do outro lado do mundo, um mundo distante chamado áfrica.

O livro de orações e os retratos 3X4 guardados dentro, pedindo especial proteção. A lua entrando pela telha de vidro, o rádio pequeno, azul, de pilha, tocando até o sono chegar. Casa de farinha de brinquedo, travesseiros rodando nos pino da cama e a fada voando de flor em flor, cantando um acalanto, palavras de amor.

Alice não mais no país das maravilhas, Alice no mundo real e a fada, assim como a Avalon de Morgana, sumindo entre a neblina. Seus passos a cada dia mais lentos, confundindo-se na nevoa do tempo.

Minha fada pequenina, hoje minha menina, há tempos atrás minha heroína.

Minha fada se dissolvendo nas brumas e eu a cada dia menos eu e mais Alice no país dos espelhos não tenho sua ajuda para correr da Rainha que grita: cortem-lhe a cabeça, cortem-lhe a cabeça...

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por Thamar

Um comentário:

  1. Toda vez que falam em mangas lembro da minha infãncia em Bsb. Manga espada. Verão. Pássaros cantando. Eu e meus irmãos embaixo da mangueira. Sem hora, sem tempo, só cara suja e inocência... e mangas chupadas até o caroço. Como deve ser a vida.

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