quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Pssss, silêncio!


Psssss, silêncio. Será que ele é tão aterrador assim? Será que ele assusta tanto? Não pode ser. Sabe o que eu acho? Que você não sabe ouvir o silêncio e todos os recados que ele trás. Pena. Do silêncio que eu gosto, você tem pavor. No silêncio que eu vivo, ouço a mais bela música que toca no meio de tantos pensamentos que gritam, em silêncio. Você não o ouve ? Mas é nele que me refugio. É nele que ouço o meu burburinho que me sai das entranhas como um grito que ninguém ouve. Nem quero que ouçam, pois que são meus e poderiam não ser entendidos. Você deve ter os seus. Ouça-os. Ou não. Sem problemas.
Ah, o silêncio. Mercadoria rara e cara, digna dos grandes reis e meros mortais. Á beira do fogo que consegue ser audível a poucos, o silêncio se torna o único e perfeito amigo. Ninguém mais. Ninguém seria parceria para ouvir o tal silêncio que tudo diz e pouco revela de si mesmo, em uma grande busca pela revelação de algo que nem sei mesmo se vou encontrar, ou se quero isso. O que importa? O silêncio me dará as respostas mesmo assim. Tanto faz se elas me farão sangrar. Nada mais importa a não ser o que ouvirei do silêncio que você não gosta, que me é caro e que tudo me mostra. Muitas verdades, outras mentiras que eu juro serem verdades por que assim você me contou. Não. Ele não mente pra mim. O silêncio me mostra e eu me encarrego de acreditar em todas as verdades ou em algumas mentiras que eu, quero acreditar, são verdades. Mentira. Minto para mim mesma. Não importa. “Acredito” nelas, pelo menos deixo você pensar assim. São mentiras daquelas que me fazem bem, mas que sei que me custarão caro. O silêncio de agora não me deixa fugir, nem de mim mesma. Ele pode ser tudo aquilo que eu esperava, mas também pode ser brutal, corrosivo, e está sendo. Não me poupará, porque grita de dentro de mim, enquanto só ouço os barulhos, que nem entendo deste mundo aqui fora, da algazarra dos carros, das crianças, mas não estou nele, apenas o observo e escapo deles. Impossível fugir, embora tente. Tristeza. Deixo-me vagar pelo meu silêncio que raramente encontro. Pelos céus, quanto custa um silêncio ? Por que ele é tão escasso? Grito para saber onde o encontro.
Sons, ah, os sons, poderia ouvir Mendelsonn, Bach e ouviria o silêncio límpido desses quase mantras que me extraem dessa modorra que é a falta de silêncio. Você ouve o silêncio? Enxerga a ausência dos sons estridentes? Seu ponto “G” ? Onde fica ? O meu ? Fica no ouvido. Sim, ele é capaz de me seduzir com uma intensidade tal que parece ser até o mais profano dos desejos. Quem? Ele, o silêncio. Profano e ao mesmo tempo divino. Para mim o é. Para você, não?
Sua busca é cansativa, mas recompensadora. Ele é meu. Nem sei se pode ser partilhado com você. Talvez apenas comigo mesma, pois que acho que quase ninguém o valoriza tanto assim.
Como uma jóia rara, buscadas nas entranhas das terras antigas e longínquas em incansável busca da qual não poupo esforços para obtê-la. E eis que descubro o meu tesouro. Puro, com um brilho único, jóia nunca imaginada e nem forjada pelos melhores ourives russos e nem suíços. Jamais fariam tal beleza, pois que não existe imaginação, criatividade tamanha para que me apresentem tal jóia.
E então? Onde o encontrarei? No silêncio, que é meu, único, indevassável, personalíssimo.
Infelizmente, acho que não posso partilhá-lo com ninguém, uma vez que não ouviriam o meu silêncio. Lástima. Ficarei com a sensação que sou um ser estranho. E o que isso importa? Mas você deve ter o seu silêncio. Antes, psssss, faça silêncio, ou você não poderá ouvir o que ele diz.

Lívia, dez, 2008

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