sábado, 3 de outubro de 2009

Crepúsculo


Estranho quando somos assaltados por uma notícia do desaparecimento de alguém a quem temos qualquer tipo de afeto que, quanto mais intenso, mais dolorido é o despreendimento.
Os dias, o tempo longe de casa, do que acontece, e sem que se possa fazer nada parece um infindável crepúsculo, nebuloso, interminável para o nosso desejo de estar com os que amamos e dizer "até mais" para quem nunca mais veremos, não em terra.
Podemos estar trabalhando do outro lado do país, não incomunicáveis, mas com a certeza de que nem sempre os nossos nos dirão o que de fato acontece onde eles estão.
Comandando equipe de trabalho onde nenhuma estratégia planejada deveria sair fora do programa, tudo correndo perfeitamente em harmonia e sincronizadamente. Perfeito. Trabalho excelente. Missão cumprida.
Chegava a hora do retorno, mas algo havia de estranho e não era palpável, não era tangível ao meu parco conhecimento dos acontecimentos que se desenrolavam longe, apenas uma sensação incompreensível de que algo, em casa, estava totalmente fora do planejado e nada mais era possível saber, mesmo com telefonemas, tudo era estranho e perigosamente calmo, tranquilo demais. Mas a sensação angustiante estava lá. A turma grita: "vamos passear na praia, a noite está uma delícia. Venha !" Convite recusado. Existia algo no ar e nem um resquício do que pudesse ser a notícia que, tinha-se certeza, não seria nada boa.
Havia algo a ser descoberto, a ser dito por aqueles que queriam, e nem sabiam se pudiam, interromper o trabalho e ter você de volta. Não quiseram avisar, não sabiam se seria possível voltar. Esperaram, angustiadamente.
Atravessado o "continente" Brasil, chegamos na terra santa, a que nos recebe de braços abertos mas com os olhos marejados. "O que será que acontece ?". Nada, dirão, não até a manhã seguinte. Que seja. O cansaço era brutal e já não era mais possivel conectar as ideias. Aguardemos.
Na manhã seguinte a notícia que, sabia eu, não queria ter. Não havia tempo para lágrimas, nem desespero. Ali começava a perder a capacidade de sentir. Havia, racionalmente planejadas, atitudes e decisões a serem tomadas. Os sentimentos foram guardados para depois (sabe-se lá quando). Iniciar um processo de idas, vindas e incógnitas. Nada animador, nada que devesse ser encarado como esperança de um retorno vitorioso. E assim foi, tudo racionalmente planejado, apesar de tudo ter saído da forma indevida, pelo menos para os meus desejos e dos meus, dos que me aguardavam com notícias animadoras que nunca vieram.
Fomos todos vencidos, derrotados. Tudo foi uma grande e frustrante corrida aérea e terrestre para um desfecho inevitável, terrível. Ali, no retorno da última viagem, parei de sentir muito e tanto. Recolhi a palheta das cores com as quais pintava minhas telas. Nem mais céus, mares, nem noites. Apenas a lembrança, essa sim, colorida, querida.
Somente um lamento: nao ter dito, muitas vezes, eu amo você.
Ao demais, aguardar o retorno das cores e de notícias mais alegres e coloridas, rsrsrsrs que virão, mesmo que discretas.

Saudações a vc, à sua vida e a dos seus, sempre.

Livia

Um comentário:

  1. Querida Liv, demorou mas consegui postar seu texto. Obrigada por ter tido o privilégio de ler primeiro. Tomara q goste da figurinha. Bjs.

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