sábado, 4 de julho de 2009

Parador,



Por Thamar

Quando eu era adolescente guardava todas as minhas cartas, cuidadosamente, numa bolsa jeans que, naquela época, se chamava Lee. Separava-as por remetente, rigorosamente em ordem cronológica de recebimento. Amarradas por uma liga, todas lá.

Quando casei, cheguei em casa um dia e encontrei minhas cartas rasgadas, jogadas no lixo como se não fossem pedaços da minha vida. Deveria ter entendido ali que quem é capaz de destroçar cartas alheias, como simples pedaços de papel, é capaz de destroçar vidas também e ter partido naquele exato momento...Não fiz, passei a não mais escrever cartas, bilhetes ou qualquer outra coisa que pudesse ser destruído por mãos que não fossem as minhas.

Anos mais tarde, filhos crescidos e criados, casamento acabado e outro recomeçado, passaram, as minhas cartas, a serem guardadas na caixa dourada chamada “Outlook”, até que, novamente, mãos profanas violaram o recinto sagrado onde depositava os fragmentos da minha vida.

Desisto de me resguardar (do latim proteger a propriedade) e lanço o desafio: guardarei, doravante, minhas cartas na internet, para que possam ler e reler e viajar nas asas de Ìcaro, imaginando o que se passar por aqui, pela minha vida..

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