sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Auto-Retrato Por Outra Pessoa





Repentinamente eis-me aqui com uma tarefa difícil de ser executada. Logo eu que não temo as letras, que as considero amigas dedicadas sempre prontas a exprimirem meu pensamento, vejo-as em greve.

Na verdade não foram as letras que se puseram em greve, mas as idéias que se recusam a ordenar-se de tal forma a ficar compreensível o que quero dizer. Como definir o indefinível? Como falar do que se sente, mas não se vê?

Meu processo cognitivo tem problemas com tudo que não seja tangível, palpável, transformável em imagens. Com tudo aquilo que se sente sem poder plasmar em imagem e sentimentos, sensações, empatias não se prestam a esse devaneio.

Tenho uma amiga querida, dessas de longas confidências ao pé da lareira, garrafas e garrafas de vinho, noites de cumplicidade virtual daquelas que só velhos amigos sabem entender. Muitas vezes completamos as frases uma da outra, sem pensar, sem querer e nos despedimos com o mesmo e simultâneo: “Dê-me licença que o sono chegou!”... As gargalhadas são certas, as coincidências também, mas não a posso definir por mais que me tenha pedido.

Intimou-me, a moça, a escrever uma lauda onde a definisse, e tudo isso a propósito de um mimo que lhe fiz, uma figurinha – sim, destas mesmas de álbuns que agora são virtuais e chamamos de blogs – com a qual presenteei um excelente texto de sua lavra...Foi peremptória: se me acha parecida com essa figurinha, então me defina!

Ora, como posso definir algo que so posso sentir? Como se define uma mulher? Quem o sabe fazer? Mulheres são seres fugidios, multicor, multifacetados, organismos não identificados no amplo espectro do mundo!

Não, infelizmente não lhe posso atender, querida amiga. Não lhe posso definir, muito embora possa enumerar intermináveis características suas – desde as meias de cores díspares entre si até ser uma excelente e devotada mãe – porque você não é definível, mensurável, espectrável.

Uma única definição lhe caberia: Você é você e é minha amiga!


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