domingo, 18 de abril de 2010

Carceres



Li um texto sobre os embarcados, pelos navios e mares do mundo. Parei para pensar no estado de confinamento, neste caso, por uma questão de trabalho, e fiquei a pensar o quanto somos livres ou o tanto que somos encarcerados, mesmo em terra firme e livre de espaços limitados.Como é viver no cárcere da vida que temos, cheia de horários, trabalhos muitas vezes desgastantes e que chegam até a deprimir o mais alegre dos homens que trabalham com as mazelas alheias.O cárcere em que vive o juiz, que precisa mandar prender aquele jovem que mal sabe da vida, mas que já descobriu um caminho estranho, da violência, da morte. Este também vive em seu cárcere particular, pois que iniciou uma trilha da qual dificilmente conseguirá desistir, talvez ao morrer, em algum confronto com policiais e justamente para não ser preso e encarcerado em alguma prisão onde sua vida também poderá ser ceifada se lá estiverem outros encarcerados e seus inimigos declarados.Também pensei no cárcere físico, naquele em que o cristão em tudo pensa, em tudo percebe que o cérebro é capaz de urdir os mais complexos pensamentos, mas que é incapaz de mover um só músculo, sequer pode falar e expressar o que sente. Talvez seja esse o mais terrível dos confinamentos. Todos mexem em você, no seu corpo, que não reage, só cumpre funções vitais que você não controla, isso quando não precisa que uma máquina ou dispositivo qualquer que execute essas funções. Aí você fica dependente da energia elétrica que movimenta essas máquinas. Melhor morrer? Talvez. Mas você nem consegue pegar nada para dar fim à própria vida. É inexorável a vida até que suas funções vitais iniciem um processo macabro de autodestruição enquanto você observa a degeneração de sua própria vida. Cárcere maldito, esse.Outros cárceres interessantes são àqueles ligados às emoções. Nossa! Esse também é cruel. Esse tipo de confinamento nos prende a emoções estranhas, que não queremos mais sentir, mas que das quais não conseguimos nos livrar. Quais seriam elas? Cada um tem as suas, bem delimitadas ou não. Mas elas existem, e nos fazem sofrer. Cárceres que muitas vezes são erguidos por cada um, como você querer viver algo e não se permitir, querer alguém e esse alguém não quiser ser seu, querer ir para um lugar e isso não ser possível. Isso é um impedimento e, se assim o é, não deixa de ser um cárcere, que priva de se andar pelo caminho desejado, pela emoção a ser vivida.Talvez a expressão cárcere, uma prisão institucional, não se enquadre no escrito aqui. Mas faz diferença se há um confinamento institucional, com a cela e suas grades e as próprias “prisões” que visitamos dentro de nós mesmos? Nenhuma. Todas prendem.Todavia, só por alguns momentos, diária ou constantemente, nossos cárceres são destruídos, desarmados. Isso acontece quando você consegue parar e perceber que determinados acontecimentos são únicos e especiais em sua vida. E quando isso acontece? Quando é possível “libertar” a mente, o pensamento e ver o que está à volta, mesmo que isso nos faça chorar, do nada, de emoção por estar livre ali, ao ver o mar, o pôr do sol, a lua linda (em qualquer das suas fases), o folguedo infantil e barulhento das crianças, aquele PPS lindo com aquela música que faz você lembrar de algo que foi muito bom em sua vida, o vinho à beira da lareira que faz um show com suas labaredas só para você. Ufa, tantos momentos livres, tanto a comemorar os rasgos de liberdade que a vida nos dá, e que nos permitimos viver.Sim, todos temos nossos cárceres, e creio que se não os tivéssemos, seríamos nem tanto livres, mas muito libertinos, rsrsr, o que também seria complicado. Então, aproveitemos nossos cárceres e nossa liberdade.

Que cada um nos torne melhores.

Lívia

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