segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Sobre morrer e outras coisas mais...

Hoje é segunda-feira gorda, como se dizia antigamente, muito antigamente quando eu era criança, segunda de carnaval, de folia e alegria, puro descompromisso e o telefone me acorda com a noticia da morte de um amigo...

Não era um amigo pessoal, intimo, de infância, não...Justiça seja feita, era amigo daquele que eu havia escolhido como companheiro, e eu mesma o vi por duas ou três vezes no máximo, mas foi o suficiente para gostar dele, sentir sua alma sensível, seu bom caráter, sua aura iluminada!

A noticia me pegou pelo calcanhar , me derrubou no chão, me puxou pelos cabelos e me lembrou o Pedro Bial – num excelente texto - quando diz que a morte é uma piada de mal gosto, muito mal gosto! Bial tem toda a razão, morrer não tem graça alguma, principalmente para quem fica!

E os planos do cara? Ele tinha acabado de passar em primeiro lugar num concurso público, tinha um filhinho, amores, sonhos, projetos e aí fica tudo ali , empoeirando e a vida vai seguindo sem pressa e nem comprometimento, mas quem conhecia ele, que já o ouviu tocar ,falar, olhou dentro dos seus olhos, ou abraçou seu corpo carinhosamente – imagino que isso tenha acontecido algumas vezes – fica aqui sem poder repetir, sem ter como dizer tchau, sem adeus, sem ponto final. Que piada mais sem graça!

Sem pé nem cabeça, a morte de alguém saudável, jovem, cheio de planos, deveria nos fazer refletir sobre a urgência de dizer e demonstrar coisas como “eu te amo”, “eu gosto de você”, “você é importante para mim”. Piadas como essas deveriam nos levar a pensa que a vida é fugaz e acaba a qualquer momento sem que tenhamos tempo ou aviso prévio para finalizar todas as coisas que deixamos para fazer um dia, quando for possível, quando eu tiver certeza, quando chegar a hora.

Eu que já perdi duas pessoas muito importantes assim, no estalar dos dedos, sei o quanto dói um dia acordar e descobrir que não haverá outra chance de conversar, outro beijo, outro abraço, uma possibilidade de dizer apenas adeu...

A certeza do fim peremptório, não o fim humano que pode a qualquer momento ser reduzido a um novo começo, a uma amizade, a algo suave e não doloroso, o fim mesmo, sem outra chance, sem oportunidade qualquer, dói demais e não some nunca da nossa alma, fica lá e, ao menos uma vez ao ano, de vez em quando volta e lhe arranha com a certeza de que poderia ter sido diferente, ao menos um pouco diferente.

Que piada mais sem graça para uma segunda-feira de carnaval!